b) Águas que separaram duas nações.
Águas partidas é
bem diferente de águas espalhadas, por isto Deus deixou bem claro o que estava
fazendo ali no Mar Vermelho diante dos olhos dos hebreus e egípcios.
Nas águas
partidas, caminhos são abertos, lideres verdadeiros aparecerem e o solo seco e
firme para pisarmos aparecem. Tudo isto caracteriza a solução para os
problemas. O Maligno trabalha em águas espalhadas, pois apresenta lama e não
solo firme.
Deus trabalhou no
imaginário dos hebreus, pois muitos boquiabertos viram a cena e pensaram ou
gritaram: “eu acredito no que estou vendo”.
Deus soprou o
vento, amenizou a temperatura, partiu as águas e abriu um caminho seco para os
hebreus, que estiveram diante de duas grandes paredes de água e um solo firme,
que representavam, respectivamente, o poder de Deus e o limite humano.
Mas quem foi o
primeiro corajoso a desbravar o mar rasgado ao meio (Ex 14.22) para enfrentar
as duas paredes de água? Será que Moisés e Arão foram os primeiros a pisarem
naquele solo seco para encorajarem os demais?
Alguns
atravessaram com medo de desmoronamento, outros passaram admirando a cena e uma
minoria atravessou correndo sem olhar para os lados. O desejo de chegarem às
margens era maior que o medo.
Aquela
autoestrada aberta em meio ao mar rasgado poderia se tornar um grande vale de
sombra e morte, pois:
- Estavam sob forte calor, já que a nuvem que protegia havia se deslocado para o final da multidão;
- Estavam diante daquelas duas paredes de água que poderiam desmoronar a qualquer momento. O lado bom era a sombra, o ar fresco e a umidade que produziam;
- O inimigo estava à retaguarda, bramando como leão, esperando somente a oportunidade para avançar.
Como acreditar no
impossível? Como imaginar a morte do inimigo e a vitória deles? O mais fácil
seria esperarem a derrota.
Atravessaram o
mar (Ex 14.22), mas não descansaram, pois se deram conta que ainda estavam
vulneráveis. A torcida, após a travessia, foi pelo fechamento imediato as
águas.
Os hebreus
estavam na outra margem, vendo o inimigo iniciar a travessia, todos zombando de
Deus, pois diziam: “será que o Deus deles esqueceu de fechar o mar ou então
está viajando como Baal[1]” (1
Rs 18.27).
Os hebreus
aguardavam ansiosos o fechamento do mar para definitivamente ficarem livres do
opressor. O desejo era que ficassem salvos de um lado e o inimigo no outro,
porém aquelas águas não seriam capazes de separá-los por muito tempo.
Caso as águas
fossem fechadas, antes da travessia do inimigo, certamente os egípcios dariam a
volta pelos golfos e os alcançariam, por isto Deus não fechou de imediato. O
seu plano era outro.
Deus havia
planejado algo jamais visto, por isto retardou a sua ação final. Foram três os
motivos para isto:
- Deus queria testar a fé de seu povo. Ficariam à margem esperando o desfecho ou sairiam correndo como ovelhas (I Rs 22.17) sem pastor?
- Para mostrar que chegaram até ali, não pelas suas próprias forças;
- Deveriam esperar mais um poucochinho de tempo para contemplarem a bênção completa, pois de que adiantaria livrá-los no mar para deixa-los a mercê do inimigo em pleno deserto, que facilmente alcançaria após darem a volta pelos Golfos.
Gritavam,
clamavam e imploravam para Moisés: “Feche o mar, porque nos alcançarão, você
não está vendo”. Mas o que poderia ser feito? Somente o EU SOU, pode fechar o
que está aberto e somente Ele pode abrir o que está fechado.
As águas do mar
Vermelho separaram, por alguns instantes, duas nações, dois povos, duas
histórias e dois objetivos. Um queria resgatar a mão de obra barata perdida e a
outra parte desejava ardentemente consolidar sua liberdade e tomar posse da
promessa. Os dois lados viram o fundo do mar, mas somente um deles sobreviveu
para registrar a história para seus descendentes.
Deus retirou a
nuvem e permitiu a aproximação dos egípcios. A caça, amedrontada, esperava
ansiosa o fechamento do mar, enquanto que o caçador imaginava que aquilo fosse
um deslize de Deus para iniciar o ataque.
Mas diante
daquela visão assustadora, quem seria o primeiro dentre os soldados egípcios a
encarar as muralhas de água? Até agora o Egito havia colecionado somente
derrotas e frustrações diante do Deus dos hebreus. Valentes não faltariam para
darem o primeiro passo.
O Egito não
percebeu o plano de Deus, que esperava o somente último carro egípcio a entrar
no mar para fechá-lo definitivamente.
Enquanto isto do
outro lado, aparentemente salvos, os hebreus não cantaram o hino da vitória,
ficaram esperando o desfecho daquela história, que culminaria com a morte do inimigo.
Sabiam que o mar havia sido aberto para eles e não para os perseguidores. No
momento certo o grande Regente permitira o início do hino da vitória.
O fato de estarem
a salvos de um lado do mar, não significava que a vitória estava completa. O
temor ainda tomava conta, pois viam o inimigo caminhando em direção deles.
Deus queria fazer
algo grandioso, pois com todos aquelas carruagens[2] do ano e cavalos vigorosos,
certamente dariam a volta e alcançariam os fracos, os doentes e idosos hebreus.
Então que tipo de bênção seria aquela? O tempo da luta foi aumentado para que a
derrota não fosse antecipada. Seria melhor esperar um pouco mais para ver o
inimigo ser eliminado de uma vez por todas.
Os egípcios
fariam tudo para reaverem sua mão de obra barata e escrava, até mesmo se
embrenhar água adentro.
O Egito poderia
ter traçado outra rota para cercar os hebreus do outro lado do Mar Vermelho,
porém se fizessem isto estariam justamente antecipando o grande milagre de
Deus, pois para esperarem do outro lado teriam que acreditar que a caça
passaria pelas águas.
Portanto, pela
ignorância do poder e do plano de Deus, os egípcios decidiram correr atrás da
caça e não esperar do outro lado como astutos caçadores que eram.
Os hebreus viram
o inimigo tentando usufruir de uma bênção que não era para eles. Os filhos de
Rá tentaram com arrogância se aproveitar, mas não tiveram sucesso. É isto que
acontece quando tomamos posse do que não é para nós.
Assim como nos dias de Noé uns foram
levados pelas águas (Ex 14.30) e outros foram deixados à margem salvos (Ex
14.31). A diferença foi que no caso da arca, ao inicio da chuva, os ímpios
gritaram para que a porta, de madeira fosse aberta, já no mar Vermelho, os
egípcios, não esperavam que a porta de água fosse fechada.
Atravessaram sem a necessidade de
embarcações, pontes ou aeronaves. Algo inédito que maravilhou todas as nações.
Que deus pagão seria capaz de fazer o mesmo?
Sequer os sapatos foram sujos de lama,
pois tudo estava seco e limpo. A sujeira ficou para trás, faltou apenas o
tapete vermelho e a comitiva[3] de
boas vindas, que não demoraria a aparecer.
A divisão e a posterior recomposição
daquelas águas se tornaram o grande triunfo dos hebreus, sobre os seus
inimigos, e o terror para as nações vizinhas, principalmente para os cananeus
que apreensivos esperavam a aproximação. Este acontecimento definitivamente
inseriu Israel no cenário geopolítico mundial da época.
Aquela se tornou a décima primeira praga
sobre o Egito. O cenário foi cuidadosamente montado por Deus. Foi assustador o
número de hebreus e estrangeiros que saíram libertos, por isto Faraó reuniu um
grande contingente para reaver sua mão de obra escrava. Não mediu esforços para
tal.
As consequências foram catastróficas para
o Egito. Todos os seus soldados morreram no mar Vermelho. Naquele dia, o
exército egípcio foi reduzido drasticamente e a segurança da nação ficou
comprometida.
Ali mesmo, no mar Vermelho, o Egito foi
novamente assolado. Cavalos, carros e soldados foram lançados ao mar. Os
príncipes morreram afogados. Boa parte da nação egípcia sucumbiu diante da
grandeza de Deus. Todos foram consumidos como palhas e afundaram como pedras.
Então os hebreus cantaram o hino da
vitória quando viram o fim trágico dos perseguidores. Cantar depois do caminho
aberto é fácil, mas se mostrar forte e encarar o problema somente Moisés foi
capaz, pois teve coragem e acreditou no livramento desde o início.
Foi notório o contraste dos sentimentos.
Medo, dúvida, revolta, desejo do retorno e murmuração, mas depois que se viram
livres do mar e dos egípcios, se alegraram como nunca e experimentaram uma
novidade de vida.
Agora sim o pavor se espalhava entre as
nações vizinhas, que temiam pela passagem dos hebreus por seus respectivos
territórios[4].
A notícia da saída do Egito, as providências
de Deus e a fama de potenciais guerreiros se espalharam rapidamente, tanto que
as outras nações já os viam com outros olhos.
O mar Vermelho foi rasgado ao meio, uma
única vez, para dar salvação aos vitoriosos hebreus. Nunca foi reaberto para
que os derrotados passassem novamente, na intenção de retornarem ao Egito. Caso
realmente aparecesse corajosos para retornar deveriam atravessá-lo a nado ou à
base de chicotadas dos egípcios ou na pior das hipóteses dariam a volta pelos
Golfos e ficariam bem pertinho e dariam de cara com os temidos filisteus.
O compromisso de Deus é com seu povo, por
isto abriu a porta para que passassem à salvos e em seguida a fechou[5]. O
grande “Eu Sou” não havia esquecido o mar aberto, apenas esperou o Egito
iniciar sua viagem sem volta.
[1]
Divindade fenícia adorada, algumas vezes, pelos israelitas, já em Canaã, que
teve seu ápice vergonhoso durante o reinado de Acabe e Jezabel (1 Rs 16.31).
[2] Faraó
se aparelhou com o que havia de melhor no Egito. Sua intenção era retomar o
controle da situação.
[3]
Filisteus, amalequitas, edomitas, midianitas, moabitas, amonitas, cananeus e
outros.
[4] Tal
como Edom, que não permitiu a passagem de Israel (Nm 20.14-21).
[5] Deus
esperou o momento para que o último soldado egípcio estivesse entre as duas
paredes de água para fechá-las.
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