A revelação do
século
Antes de se revelar José ordenou que
todos os egípcios saíssem, pois somente os filhos de Abraão poderiam presenciar
os fatos que se seguiriam. Os irmãos ficaram assustados, imaginando que talvez
conhecesse a história de seus antepassados hebreus, ou que fosse algum
descendente dos filhos de Abraão com Quetura, de Ismael, Esaú ou um dos hicsos[1].
O espanto seria maior caso José ordenasse
que ficasse na sala somente os filhos de Jacó. Certamente olhariam para os
lados na esperança de verem o irmão vendido como escravo aparecer maltrapilho,
sujo, doente ou imundo. Poderiam pensar que aquele autoridade egípcia julgaria
os erros do passado.
Joelhos tremendo, dentes batendo, ossos
desconjuntados, corações acelerados, adrenalina a mil, espanto geral, vestes
rasgadas, prantos no último volume, gritos de desespero, homens caindo ao chão
clamando por misericórdia e perdão. O passado foi remexido para que houvesse a
reconciliação entre os filhos de Jacó.
José se revelou[2] diante de um silencio. Todos
pasmados sem forças para interrompê-lo. Seus irmãos esperavam a sentença, mas
novamente foram surpreendidos ao ouvirem o testemunho das bênçãos e
providências recebidas de Deus naquele lugar. Nada de vingança.
Como é difícil imaginarmos o desabafo e a
emoção daqueles homens que por tantos anos guardaram um segredo, enganando o
próprio pai.
Foram necessários quinze versículos, do
capítulo quarenta e cinco do livro de Gênesis, para que José contasse toda a
sua trajetória. Da cova, sua primeira morada e primeiro estágio, até o trono,
para receber o reconhecimento no Egito:
- 1 – Somente os da linhagem abraâmica presenciaram aquela cena;
- 2 – Os gritos que para os egípcios pareciam choro, para José foi a sensação de vitória, alegria e voz de júbilo, libertação do passado;
- 3 – José revelou sua identidade, mas a voz quase não saiu quando perguntou do pai;
- 4 – Chamou-os para perto. Foram com medo, pasmados e boquiabertos;
- 5 – Alegria, por fora, mas no interior, angústia, medo e temor pela reação do irmão. O pior foi ouvirem que tudo o que havia sido permissão de Deus, para que a sua vida fosse preservada;
- 6 – Sua missão foi administrar todos os mantimentos do Egito durante o período de fome.
- 7 – José resguardou a nação egípcia e seus vizinhos da fome e foi importante na conservação de sua linhagem e história;
- 8 – Se tornou pai de Faraó, senhor de toda a sua casa, regente de toda a terra do Egito. Isto era para deixar qualquer um de boca aberta e com inveja[3];
- 9 – Eles reverenciariam o irmão e seriam os agentes que comunicariam as boas novas ao pai;
- 10 – Deveriam buscar o pai para contemplar a vitória da família;
- 11 – Seriam sustentados por José durante os anos que ainda restavam de fome;
- 12 – Para que não duvidassem de sua história, José usou Benjamim como testemunho;
- 13 – Deveriam contar a Jacó toda a glória alcançada por José no Egito;
- 14 – Benjamim olhou e viu ali um exemplo a seguir. Como foi bom ver seu irmão trabalhando, que visão maravilhosa, bem diferente daquela que José teve quando viu seus irmãos pastoreando, quando cumpriu a última ordem do pai;
- 15 – Acabaram as palavras, as lágrimas não. Se abraçaram e choraram.
José primeiramente abraçou Benjamim e
depois aos outros. A reação do jovem foi instantânea: “É você o José que nosso
pai Jacó sempre falou”? Depois olhou para os outros e disse: “Ele não é nada
daquilo que vocês me falaram. O nosso pai estava certo. Quando eu crescer quero
ser igual a ele. Um grande exemplo para mim”.
O problema que anteriormente era de José,
foi transferido com sabedoria, para os seus irmãos, pois como contariam ao pai
toda a história? Não era somente chegar e anunciar que José estava vivo, antes
teriam que revelar a farsa da morte, deveriam pedir perdão ao pai para depois
se alegrarem todos juntos.
José ordenou que seus voltassem a Canaã
para trazerem todos para o Egito. Os irmãos refletiram no caminho e
encontrariam uma forma de repararem o erro[4].
Com o passar do tempo se sentiram
culpados pela tristeza do pai, mas agora estavam livres daquela tenebrosa
angústia. Verdadeiramente estavam libertos.
[1] Povos
semitas que dominaram por um bom período o Egito antigo, que foram favoráveis e
gratos à administração de José.
[2] A
revelação do século: “Eu sou José, o vosso irmão”.
[3] Não
invejaram o trono de José, pois aquilo era obra de Deus, mas tiveram inveja de
uma túnica, obra humana.
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