Enfim após a nona
praga, os egípcios respiraram aliviados: “Ufa, acabou”! Mal sabiam que o pior
ainda estava por vir e o grande culpado seria o próprio Faraó.
Praga a praga,
Faraó foi sendo enfraquecido até que na décima recebeu o golpe fatal. Naquela
fatídica noite gritos foram ouvidos nos corredores do palácio e das casas
egípcias: “É um pássaro? É um avião? Não! É o Anjo do Senhor, procurando sangue
nos umbrais das portas”.
A noite mais estranha
da humanidade, pois conseguiu produzir ao mesmo instante alegria e tristeza.
Para os hebreus houve vida, sono tranquilo, bênção, luz, união entre os membros
da família e uma festa memorável, a Páscoa.
Para os egípcios
houve morte, insônia, tristeza, juízo, trevas, choro, divisão, lamentos e luto.
O gigante acordou tarde. Deus havia avisado desde o início, mas Faraó não deu
crédito. “Ou sai o meu primogênito ou mato o seu” (Ex 4.23).
Os hebreus
seguiram todas as orientações para enfrentarem a última noite em solo egípcio.
Prepararam o cordeiro, o pão sem fermento, pegaram seus cintos e cajados,
colocaram as sandálias nos pés, comeram apressadamente e não saíram para fora
durante aquela noite.
A comemoração da
primeira Páscoa se deu no último dia de escravidão. Na verdade já estavam
livres, faltava somente o alvará de soltura que viria através do grito de dor
do próprio Faraó.
De todo, não
tiveram corações assim tão duros antes da saída, pois acreditaram nas palavras
de Moisés e comemoraram[1] bem
antes a libertação. Era de se esperar que relutassem por ainda estarem em
terras egípcias.
Enquanto
comemoravam a Páscoa, felizes da vida, Faraó estava do outro lado refletindo
sobre os últimos acontecimentos. Tanto no campo espiritual, quanto no material
a vergonha estava impregnada em sua história e em suas divindades.
Até a nona praga,
somente a nação, economia e divindades egípcias tinham sido atingidas, mas a
décima praga atingiu em cheio ao filho de Rá, o supremo Faraó.
No “filho da
filha de Faraó”, Moisés, ninguém tocou após o seu retorno ao Egito, tampouco se
lembraram do seu erro do passado, mas o “filho do filho de Rá”, o primogênito,
pagou pelo erro do pai.
Assustados e
revoltados ficaram todos os egípcios, em especial Faraó, que parado diante do
corpo inerte de seu primogênito ouviu uma voz: “Mas eu te disse: Deixe sair o
meu primogênito”.
Então derrotado,
Faraó permitiu[2] a
saída do povo de seu território (Ex 12.31-36), levando família, gado e tudo o
que os egípcios lhe deram como recompensas pelos quatro séculos de trabalho
(cfe Gn 15.14). O último pedido[3]
de Faraó foi: “abençoai-me também a mim”.
Faraó disse para
Moisés no fervor de sua decisão: “Saia da minha presença e nunca mais apareça
aqui! Pois, no dia em que tornar a me ver, você morrerá!” Nunca aquele
governante havia dito uma verdade tão profunda. Estava certo, nunca mais os
hebreus seriam vistos naquele território.
Que satisfação
dos hebreus quando viram os egípcios temendo por mais atuações de Deus.
Ergueram as cabeças, para transparecerem os semblantes desafiadores[4] (Nm
33.3).
Os egípcios ficaram nas janelas
olhando o desfile dos vitoriosos hebreus. Uns rangiam os dentes de raiva,
outros aceitaram a derrota, alguns ainda choravam pela morte de seus
primogênitos e a maioria dizia: sumam do Egito e vão adorar o Deus de vossos
pais lá no deserto. A saída se deu pela porta da frente, com um gostinho
maravilhoso de vitória.
[1] A
comemoração da Páscoa (Ex 12.1-18) foi bem antes da libertação (Ex 12.51).
[2] Faraó expulsou
Israel. “Saiam imediatamente [...]” (Ex 12.31 NVI).
[3] Faraó não conhecia o Senhor, mas ouviu a voz de Deus e
tremeu (Ex 12.31-32)
[4] Era
como se dissessem pelo olhar: “Quem mandou mexer com o nosso Deus?”
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