A relação entre o Espírito e a
tribulação é em grande parte apurada pela interpretação de 2 Tessalonicenses
2.7,8. Alguém afirmara erroneamente que os tessalonicenses já estavam no dia do
Senhor. Para corrigir essa interpretação equivocada, Paulo afirma que eles não
podiam estar no dia do Senhor, pois aquele dia não viria até que o iníquo fosse
revelado. Sua manifestação era impedida pela obra de detenção dAquele cujo
ministério permaneceria. Apenas após a retirada desse detentor é que o iníquo
seria revelado e o dia do Senhor começaria.
Chafer escreve: A verdade central da
passagem em discussão é que, embora de há muito Satanás quisesse ter consumado
seu plano maligno para o cosmo e ter introduzido seu último governante
humano, há um Detentor que impede essa manifestação para que esse plano de Satanás
seja desenvolvido e completado somente na hora designada por Deus. (Lewis
Sperry CHAFER, Systematic theology,IV, p. 372).
João testemunha que o plano de
introduzir o iníquo havia começado a operar em sua época (l Jo 4.3). Esse plano
satânico continuou ao longo dos séculos, mas foi controlado pelo Detentor.
A. Quem é o Detentor? Várias respostas já foram dadas quanto à identidade desse
agente de detenção.
1. Alguns acreditam que o detentor
fosse o Império Romano, sob o qual Paulo viveu. Reese diz:
A interpretação melhor e mais antiga é
que Paulo hesitou em descrever com palavras o que queria dizer, porque tinha em
mente o Império Romano. A influência impessoal era o sistema magnífico de lei e
de justiça em todo o mundo romano; isso controlava a iniqüidade e o iníquo.
Então a linhagem de imperadores, a despeito de seus indivíduos ímpios, tinha a
mesma influência. (Alexander REESE, The approaching advent of Christ, p.
246.)
2. Uma segunda opinião, intimamente
associada à anterior, é a de Hogg e de Vine, segundo os quais o detentor era o
governo e a lei humana. Eles escrevem:
No devido tempo o império babilônico, a
cujo rei as palavras foram ditas, foi substituído pelo persa, este pelo grego,
e este, por sua vez, pelo romano, que floresceu na época do apóstolo [...] As
leis sob as quais esses estados subsistem foram herdadas de Roma, da mesma
forma que Roma as herdou dos impérios que a precederam. Assim, as autoridade
existentes são instituídas por Deus [...] a autoridade constituída deve agir
para deter a iniqüidade. (C. F. HOGG & W. E. VINE, The Epistles of Paul
the Apostle to the Thessalonians, p. 259-60).
Vemos nitidamente que "as
autoridades que existem foram por ele instituídas" (Rm 13.1). No entanto,
o poder humano não parece ser uma resposta satisfatória à identidade do
detentor. Walvoord escreve:
O governo humano, no entanto, continua
durante o período tribulacional no qual o iníquo é revelado. Embora todas as
forças de lei e ordem tendam a deter o pecado, elas não o fazem por seu próprio
caráter, mas à medida que são usadas para alcançar esse fim por Deus. Parece
uma interpretação preferível entender que toda a detenção do pecado,
independentemente dos meios, procede de Deus como ministério do Espírito Santo.
Como Thiessen escreve: "Mas quem é o detentor? Denney, Findlay, Alford,
Moffatt afirmam que isso se refere à lei e à ordem, especialmente como
incorporadas no Império Romano. Mas, conquanto governos humanos possam ser
agentes no trabalho de detenção do Espírito, cremos que eles, por sua vez, são influenciados
pela igreja. E, ainda, atrás do governo humano está Deus, que o instituiu (Gn
9.5,6; Rm 13.1-7) e o controla (Sl 75.5-7). Então é Deus, pelo Seu Espírito,
que detém o desenvolvimento da iniqüidade". (John F. WALVOORD, The Holy
Spirit, p. 115)
3. Um terceira opinião é que Satanás
é o detentor. Um defensor dessa opinião escreve:
Por que todo o mundo deveria concluir
que esse detentor deve ser algo bom? Esse poder de detenção não poderia ser o próprio
Satanás? Ele não tem um plano para a manifestação do filho da perdição, assim
como Deus tinha uma hora designada para a encarnação de Seu Filho divino? (MRS.
George C. NEEDHAM, The Anti-Christ, p. 94).
A resposta óbvia a essa alegação seria
a resposta do Senhor aos que O acusaram de fazer Seus sinais por poder
satânico: "Se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não
poderá subsistir" (Mc 3.25). Além disso, a retirada desse detentor não
liberta o mundo da atividade satânica, como ocorreria se Satanás fosse o
detentor, mas o lança no mundo com uma fúria descontrolada (Ap 12.12). Walvoord
diz:
Essa idéia dificilmente é compatível
com a revelação de Satanás nas Escrituras. Satanás jamais recebe poder
universal sobre o mundo, apesar de sua influência ser incalculável. Um estudo
de 2Tessalonicenses 2.3-10 mostra que aquele que detém sai de cena antes que o
iníquo seja revelado. Isso não poderia ser dito sobre Satanás. Pelo contrário,
é no período tribulacional que o trabalho de Satanás é mais evidente. As
Escrituras o apresentam lançado na terra e liberando sua fúria nesses dias
trágicos (Ap 12.9). A teoria de que Satanás é o grande detentor da iniqüidade é,
conseqüentemente, impossível. (WALVOORD, op. cit., p. 116)
4. Uma quarta interpretação é a de que
o detentor é a igreja. Reconhece-se que os crentes são comparados a sal,
um conservante, e à luz, agente purificador, dissipador de trevas. Concorda-se
que a igreja poderia ser um dos meios pelos quais a detenção é sentida, mas o
canal não poderia agir ao mesmo tempo como agente. Stanton escreve: . .. a
igreja é, no máximo, um organismo imperfeito, perfeito em posição diante de
Deus, com certeza, mas experimentalmente, diante dos homens, nem sempre pura e
livre de acusação. Como o governo humano, a igreja é usada por Deus para
impedir a manifestação total do iníquo no presente século, mas o que detém efetivamente
não é o crente, mas Aquele que dá poder ao crente, o Espírito Santo que vive
nele (Jo 16.7; I Co 6.19). Sem Sua presença, nem a igreja nem o governo teriam
a habilidade de impedir o plano e o poder de Satanás. (Gerald STANTON, Kept
from the hour, p. 110.).
a) Por mera eliminação, o Espírito
Santo deve ser o detentor. Qualquer outra hipótese deixa de preencher as exigências
[...]
b) O iníquo é uma pessoa, e suas
operações abrangem o reino espiritual. O detentor deve, da mesma forma, ser uma
pessoa e um ser espiritual [...] para deter o Anticristo até a hora de sua
revelação. Meros agentes ou forças espirituais impessoais seriam
insatisfatórios.
c) Para alcançar tudo o que deve ser
realizado, o detentor deve ser um membro da Trindade. Deve ser mais forte que o
iníquo e mais forte que Satanás, que energiza o iníquo. Para deter o mal no
decorrer dos séculos, o detentor deve ser eterno [...] O campo de ação do
pecado é o mundo inteiro: logo, é imperativo que o detentor seja alguém não
limitado pelo tempo e espaço [...]
d) Essa era é de certa forma a
"dispensação do Espírito", pois Ele trabalha agora de maneira
diferente de outros séculos como uma Presença residente nos filhos de Deus
[...] A era da igreja começou com o advento do Espírito no Pentecostes e terminará
com o inverso do Pentecostes, a retirada do Espírito. Isso não significa que
Ele não estará operando — apenas que não
será mais residente.
e) O trabalho do Espírito desde Seu
advento incluiu a detenção do mal [...] João 16.7-11 [...] l João 4.4. Como
será diferente na tribulação [...]
f) [...] apesar de o Espírito não ter
residido na terra durante os dias do Antigo Testamento, assim mesmo exerceu
influência detentora [...] Isaías 59.19b... (Ibid., p. 111-5)
O trabalho do Espírito Santo com
os crentes na tribulação.
O fato de que o Espírito Santo é o
detentor, a ser retirado da terra antes do início da tribulação, não deve ser
interpretado como uma negação de que o Espírito Santo seja onipresente, ou de
que continue a operar no final desta era.
O Espírito trabalhará dentro e por meio
de homens. Só se insiste em que os ministérios exclusivos do Espírito Santo ao
crente neste presente século (batismo, I Co 12.12,13; habitação, I Co 6.19,20;
selo, Ef 1.13; 4.30 e enchimento, Ef 5.18) terminarão. Sobre essa questão Walvoord
escreve:
Há pouca evidência de que os crentes
serão habitados pelo Espírito durante a tribulação [...] O período
tribulacional [...] parece voltar às condições do Antigo Testamento de várias maneiras;
e, no período do Antigo Testamento, os santos jamais foram habitados
permanentemente exceto em casos isolados, apesar de serem encontrados vários
casos de plenitude do Espírito de capacitação para serviço. Considerando todos
os fatores, não há evidência da presença habitadora do Espírito Santo nos
crentes durante a tribulação. Se o Espírito residir no crente durante a
tribulação, no entanto, segue-se que serão selados pelo Espírito, pois o selo é
a Sua própria presença neles. (WALVOORD, op. cit., p. 230).
Trecho extraído do livro: Manual de Escatologia. Uma análise detalhada dos eventos futuros. J.
Dwight Pentecost, Th.D. Editora Vida. Tradução: Carlos Osvaldo Cardoso
Pinto, Th.M.