Os desigrejados.
“Para Jesus dizem sim,
mas para a Igreja
dizem não.
Dizem sim para a cabeça e não para o corpo”.
Introdução
O movimento dos desigrejados é composto pelos
que se dizem cristão e que são conhecidos como “os sem religião, os evangélicos
não praticantes, os crentes indeterminados”, que não estão filiados a nenhuma
igreja, mas que se consideram o modelo ideal de igreja.
São pessoas que, descontentes com líderes,
estruturas, rigidez ou conduta de outros membros e que rejeitam a prática
litúrgica “templaria” tão necessária para o crescimento espiritual.
Os adeptos desse fenômeno estatisticamente passaram
a ser conhecidos como “crentes indeterminados”, justamente para diferenciá-los dos
que estão afastados. Isso se tornou um desafio, não somente social, como também
espiritual.
Paradoxalmente pregam o
amor a Cristo ao mesmo tempo em que fazem apologia ao ódio e aversão às
instituições religiosas legalmente constituídas. Mas é possível amar Jesus e
odiar a igreja? É possível dizer sim para a cabeça e dizer não para o corpo? Ou
dizer sim para Jesus e não para a igreja?
I – VISÃO E PRÁTICA DO MOVIMENTOS DOS DESIGREJADOS
1. Um ensino anti-institucional
Poderíamos acrescer a esse versículo: “...Eu sou de
Paulo...Eu sou de Apolo...Eu sou de Pedro...Eu sou de Cristo”...Eu sou
desigrejado, destemplado ou destabernaculado.
“ que eu quero dizer é isto: cada
um de vocês diz uma coisa diferente. Um diz: Eu sou de Paulo; outro, Eu sou de
Apolo; outro, Eu sou de Pedro; e ainda
outro, Eu sou de Cristo”. 1 Co 1.12 (NTLH)
Qual a razão do surgimento desse movimento?
a) Volta às origens como na igreja primitiva?
- Os crentes primitivos se reuniam
em casas, às escondidas, pregavam de porta em porta, pois estava diante de uma
ferrenha perseguição e por não existir uma forma organizada de instituição e
legalização se mantinham como podiam na época e não havia perspectiva para
outro tipo de modelo de igreja a não ser o apresentado e vivido pelos
apóstolos.
b) Estamos diante de novo levante de perseguição no
Brasil?
- Impossível, pois não precisamos
nos reunir em porões, salões camuflados, às escondidas e altas horas da noite.
O mundo “abraça” o movimento evangélico. Não somos mais a minoria. Não somos
mais atacados. Não temos mais nossa literatura (Bíblia) queimada em praças
públicas. Não temos inúmeras noticias de apedrejamento de templos, pastores,
membros etc., como antigamente.
c) Existem vantagens humanas para a criação e manutenção
desse sistema entre os crentes atuais?
- Por estarem enquadradas entre as
instituições de cunho religioso (conforme artigo 150, inciso VI da Constituição
Federal do Brasil de 1988), as igrejas são “agraciadas” com a isenção dos
impostos atribuídos pela União, Estados e municípios. Dente os impostos
estão o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano, IR (Imposto de Renda), COFINS (Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social), ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação), IPVA
(Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para os veículos que
estiverem em nome da igreja. Talvez o fascínio por essa condição prevista em
lei poderia estimular os ditos lideres dos desigrejados a retornarem ou abrirem
novas denominações com Estatutos, templos, documentação correta e endereço para
o povo se reunir. Sem contar que reuniões em locais que não sejam templos,
provavelmente acarretará diminuição de custos como aluguel e construções,
reformas e manutenção.
d) O amor de muitos se esfriou. A crise institucional atacou as igrejas
ou a falta de oportunidades para o desenvolvimento de dom e talentos recebidos:
- Trata-se de um movimento comum, mas que sutilmente
tira muitos crentes de suas denominações. É fácil, prático, usual e até cômodo
para a pessoa se declarar crente sem ter filiação e ligação com instituição
religiosa humana.
Por outro lado é importante
frisarmos que a igreja, enquanto reunião, deve cumprir seu objetivo primário
que é a glorificação a Deus sem se esquecer do seu dever em proporcionar
crescimento e ministração aos seus membros, oportunizando momentos para que
sejam colocados em prática os dons e talentos, bem como suprir as carências de relacionamento,
emocionais e espirituais.
Mas quem são aqueles que
fazem parte do movimento dos desigrejados? São pessoas imaturas na fé? São
membros que nunca se dispuseram a trabalhar em prol do crescimento do reino de
Deus na Terra? São jovens, crianças ou pessoas que nunca tiveram espaço ou
oportunidades em suas igrejas? São aqueles que estão afastados ou os que
abandonaram a fé? Ou são pessoas conhecedoras da Palavra, convictos e
fundamentados, obreiros e até mesmo pastores? O movimento de desigrejados visa
a todos sem distinção e mira nos que estão insatisfeitos, deslocados,
desprezados ou até mesmo os que estão em atividades, que se se tornarão
potenciais críticos às instituições eclesiais.
Família, Educação, Estado, Política,
todas essas instituições sofrem ataques do mundo e tiveram sua credibilidade
posta em seque, a Igreja também está sujeita a esse bombardeio.
O movimento dos desigrejados são contra toda forma de organização e
institucionalização da igreja, menos a deles. Eles tem tudo o que conhecemos em
termos de organização, exceto liderança, cobertura espiritual, pois quando se
reúnem deve haver sim alguma forma de planejamento e cuidado. Para os
desigrejados, a verdadeira igreja não precisa de templos, cultos regulares, departamentos,
hierarquia, ofertas, dízimos, ministério oficialmente constituído, confissões
de fé, rol de membros, imóveis, escolas e propriedades. Jesus não organizou
nada disso, pois não era tarefa sua, Ele veio salvar o que se havia perdido. A
organização deveria ser exercida pela igreja que seria constituída.
Os desigrejados se reúnem
em casas, locais, mas fatalmente uma hora ou outra alguém vai dizer: “Acho
melhor procurarmos um salão, pensarmos em um nome chamativo, pois o número de
discípulos aumentou”.
2. Um ensino anticlerical
Os desigrejados não se submetem a nenhuma liderança,
pois são contra toda e qualquer forma de institucionalização e organização da
igreja, imaginando estarem em conformidade com os ideais da igreja primitiva, alguns
deles esquecidos por nós, que diziam respeito a comunhão, ao partir do pão, a
oração, a doutrina dos apóstolos (At 2.42-47) e principalmente o dever e prazer de pregar de porta em porta
todos os dias (At 5.42) para alcançar os perdidos.
A igreja primitiva era organizada de forma a suprir as
necessidades de todos os departamentos, mesmo com suas limitações financeiras e
estruturais. Entre eles havia diáconos (At 6.1-3), presbíteros, missionários, apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e doutores (Ef 4.11; At 13.1), organização
essa muito necessária para a propagação do Evangelho em meio a perseguição.
As perseguições
realizadas pelos imperadores romanos duraram até o Edito de Constantino no ano
313 d.C., quando foram cessados todos os propósitos de destruir a Igreja. O
imperador Constantino, um impositor e impostor, se fingiu de cristão convertido
somente para impor à igreja inovações, modismo e idolatria. A igreja recebeu com alegria esta decisão, sem saber que estava se
abrigando no lugar mais escuro da sua história.
"Pelo presente edito, é concedido aos cristãos
uma completa e absoluta liberdade para exercerem a sua religião. E não só esta
liberdade lhes é absolutamente concedida, mas a todos os outros que desejem o
mesmo privilégio de seguir a sua própria confissão religiosa. Igualmente
determinamos quanto aos lugares de culto em que os cristãos se costumavam
dantes reunir. Se foram comprados, quer pelo nosso tesouro, quer por outra
qualquer pessoa, sejam restituídos aos ditos cristãos sem encargos ou exigência
de indenização, e pelo preço por eles pago, e sem impedimentos ou subterfúgio.
A igreja recebeu com extraordinária alegria esta forma que tomaram tão
rapidamente os seus negócios, e na cegueira de uma gratidão excessiva,
abrigou-se comodamente sob as asas da águia romana. Apesar disso, nunca poderia
haver uma completa fusão dos dois partidos. Um ou outro tinha de ter a
primazia, e no entanto a igreja contentava-se em ficar no lugar mais obscuro”. Trecho
extraído: KNIGHT A. E. e W. Anglin. História do cristianismo. 2ª ed. - Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1983.
II
– A NATUREZA DA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA
1.
Um organismo
Os desigrejados são
individualistas e se consideram os verdadeiros seguidores e se apoiam na
Palavra (onde estiverem dois ou três reunidos - Mt 18.20), mas ignoram o
contexto (...se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o...leva
ainda contigo um ou dois...E, se não as escutar, dize-o à igreja...e se também
não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano...tudo o que
ligardes na terra será ligado no céu...tudo o que desligardes na terra será
desligado no céu...se dois de vós concordarem na terra ...isso lhes será feito
por meu Pai – Mt 18.15-19).
Afirmam que amam o próximo e que
vivem em perfeita comunhão, mas onde está presente essa comunhão, já que não se
reúnem em locais determinados para adorarem, aprenderem, crescerem e exercitarem
a fé? Quantas vezes fomos embora após o término do culto, rápidos e ofegantes
para nossas casas a fim de vermos o cumprimento da Palavra recebida durante a
pregação nos templos?
A igreja é um organismo vivo, visível e presente no
mundo dos homens, portanto deve se estabelecer e se submeter as condições
governamentais impostas para ser legalmente reconhecida como instituição e
gozar de direitos previstos em Lei.
2.
Uma organização
A critica dos desigrejados pela organização e
institucionalização das igrejas é por pura insubmissão e não tem nada a ver com
zelo pela Palavra. Além do mais como poderá existir um organismos sem
organização?
O embrião na oitava semana de gestação é um
organismo vivo, que surgiu da organização do sentimento e atos de dois seres.
Primeiramente o conhecimento, aproximação, amor, o contato físico e a
fecundação. Não haveria organismo vivo (embrião) sem a organização prévia (ato
sexual) dos pais.
Na igreja primitiva havia um sistema de governo,
liderança, organização e código doutrinário (At 2.42-47) e disciplinar (I Pe
3.5-22, II Ts 3,6). Portanto uma igreja sem liderança, sem regras ou
disciplina, além de ser um mito é também uma heresia.
III – A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA IGREJA
1. A igreja como família de Deus
O congregar é um ato
solene, para poucos, um privilégio, pois fortalece o sentimento de
pertencimento ao Corpo de Cristo, portanto é inviável a ideia de dizer sim para
Jesus (Cl 1.18) e não para o corpo, que é a igreja.
Na Igreja, como corpo de
Cristo, existem regras, hierarquias, comando, direção e a constante necessidade
de reunião, tal como ocorre nos grupos familiares, por isso há a necessidade de
ser fomentada a comunhão uns com os outros.
2. A igreja como testemunha da salvação
A igreja não pode se
limitar apenas a um templo, pois sua missão vai muito além do que simplesmente
recebe e socorrer apenas os que se encontram dentro de suas paredes.
a) A missão da igreja é
completa fora dela, pois abrange:
- Evangelização – foco no mundo
- Adoração – foco em Deus
- Edificação – foco em si mesma
Conclusão
Os desigrejados possuem uma visão errada do que é ser igreja,
pois pregam o distanciamento dos templos, reuniões e momentos de comunhão,
partilha, fortalecimento e exercício da fé. Pregam a liberdade de expressão
vista em Atos 1, quando alguns crentes primitivos estavam em oração, mas rejeitam
o ideal de Atos 2 e Hebreus 10.25.
Referencias
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão
Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada. Nova tradução na linguagem de hoje.
Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Por que as igrejas não pagam
impostos no Brasil e como funciona em outros países? Redação Jota. São Bernardo
do Campo. Disponível em: https://www.jota.info/tributos-e-empresas/tributario/por-que-as-igrejas-nao-pagam-impostos-no-brasil-imunidade-tributaria-0052022#:~:text=No%20 Brasil%2C%20as%20igrejas%20e,da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%20de% 201988. Acesso em 24/08/2022
Marinho. Karina Passos. Os
desigrejados. Disponível em: https://teologiabrasileira.com.br/os-desigrejados/. Acesso em 23/08/2022
Germano, Vitor. O que são
os desigrejados. Disponível em: https://vitorgermano.blogspot.com/2018/02/o-que-sao-os-desigrejados-eles-estao.html. Acesso em 25/08/2022