“CASA DO PAI” –
SOCORRO DE DEUS?
LEVIRATO – SOCORRO
HUMANO?
Realmente as viúvas eram as maiores vitimas da
sociedade judaica. Por vezes esquecidas ou desprezadas, mesmo nesta situação
contavam com o olhar de Deus sobre suas vidas, pois estas ações humanas foram todas
previstas mesmo antes da lei mosaica entrar em vigor (Gn 38.8). Não seria
novidade se tais mulheres ficassem a mercê de suas próprias sortes, esperando
um milagre. Outras agiam conforme sua vontade para resolverem o problema, mas
falhavam ou arrumavam confusões, piorando ainda mais a situação.
A) “CASA DO PAI”
Judá, o que havia optado pelo venda de José (Gn
37.26) e que pensara em extrair lucro da vida do próprio irmão, viu seus três
filhos e nora protagonizarem uma das mais estranhas, audaciosas e intrigantes
ações humanas na tentativa de impedir, melhorar ou resolver problemas
familiares, uma situação calamitosa.
Seus filhos Er, Onã foram mortos por Deus (Gn 38.7,
10), o primeiro devido a maldade e o segundo por não querer suscitar a descendência
do primeiro e a grande prejudicada em toda esta história foi Tamar, que após a
morte de Er, se desposou de Onã, seu cunhado, para que desse continuidade na
semente de seu marido. Então imaginou que sua vida pudesse melhorar ou que,
pelo menos, não ficaria desprotegida no caso de outra perda.
Sua alegria durou pouco, pois seu novo marido
não demonstrou intenção de lhe dar filhos (Gn 37.9; cfe Dt 25.6), proporcionando
condições para que, na sua velhice ou no futuro, não viesse a sofrer, mesmo diante
da segunda viuvez. Isto não agradou a Deus, pois ele estava impedindo, em
parte, o cumprimento do levirato, que era apenas um costume bem antes da
promulgação da legislação mosaica, portanto também morreu.
O terceiro filho de Judá era muito novo para
que desse continuidade nesta atribulada família. A solução encontrada por Judá
foi enviar sua nora para casa de seus pais (Gn 38.11) até que Selá atingisse a
idade ideal para o casamento. Uma boa opção, haja vista que, não havia outra. Bastava
ela esperar “no Senhor”, que um dia chegaria o momento de sua vitória. Se bem
que durante este período ela estaria no melhor lugar, na “casa do pai”. Então
não tinha muito por se afligir.
O lugar era o melhor, mas o período foi
tenebroso. Dúvidas, choro, sofrimento, angustias, falta de noticias,
desesperanças e solidão. O que passava pela sua mente? O sogro a esqueceu? O
menino cresceu e casou com outra? Ou quem sabe ela o via todos os dias e não
entendia o porquê não era permitido o novo casamento. Será que Judá esqueceu (Gn
38.26) a promessa?
Tamar esteve na casa de seu pai por tanto
tempo, mas não aprendeu a se comportar como tal. Tentou resolver este problema
usando sua astúcia, não soube esperar “no Senhor”, que certamente não havia
esquecido dela. Armou um plano perfeito, sem falhas. Atraiu o sogro e jogou o
laço. Uma mulher, que soube como “quebrar as pernas” de um homem, apesar de que
Judá não foi nenhum exemplo de conduta e caráter. Escondeu seu erro, condenou a
pobre Tamar, tudo isto pelo desejo de preservar sua descendência.
O plano de Judá deveria ter dado certo, era
perfeito. Tamar ficaria na casa do pai e seu filho, Selá, atingiria a idade e
dois se casariam e estava salva a família e descendência. O problema foi o
período de espera. Como é difícil!
B) LEVIRATO
Uma verdadeira tragédia na família. Filhos e
maridos mortos e sobraram apenas as viúvas, Noemi, Rute e Orfa. A situação
pedia uma atitude urgente da parte da matriarca, que não deveria pensar somente
em si mesma. O problema era o que fazer com suas noras. Nas terras de Moabe
poderiam ser acolhidas por suas famílias ou pelo menos tinham a expectativa de
um novo casamento.
Noemi, com certa idade (Rt 1.12), não
alimentava esperança e mesmo que houvesse algum desejo certamente seu coração
pendia para as terras de Judá, já que era conhecedora do levirato (Dt 25.5-9).
Por isto despediu suas noras e resolveu seguir viagem para resgatar suas
origens, mas elas a seguiram, até o momento em que ouviram dela que sua força
para gerar novos filhos havia se esgotado e que a mão de Deus estava
descarregada sobre sua vida (Rt 1.13b). Este foi o marco da separação das três,
pois uma não suportou tamanha tristeza nesta declaração e voltou para sua
família, a outra não.
Rute poderia ter voltado para seus afazeres, para
casa de seu pai, mas rapidamente processou em sua mente o retrocesso que isto
representaria. Estava “limpa” da idolatria moabita, havia aprendido muito com
aquela família, presenciou todo o sofrimento de sua, agora pobre (Rt 1.21),
sogra.
Então Rute decidiu “aceitar Jeová como Salvador
de sua vida” (sic) e conscientemente, de livre e espontânea vontade, leu sua
carta de conversão (Rt 1.16) para que todos os ouvidos moabitas ouvissem que a
partir daquele momento ela tinha um outro Deus, o verdadeiro e único, Jeová.
E agora Noemi? A mulher está convertida,
convicta e decidida, não há como impedi-la de conhecer a “casa do Pai”. Chegaram
a Belém e toda a cidade se comoveu apenas com Noemi, não com Rute (Rt 1.19),
pois sussurraram entre si dizendo: “... não é esta Noemi”, mas lá no fundo
certamente disseram: “e esta moabita, quem é? O que esta adoradora do deus de
barriga quente está fazendo aqui? Fora com os adoradores de Moloque”.
A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal em seu
comentário de rodapé (Rt 2.2-3) descreve o momento da chegada, a recepção e
atitudes daquela estrangeira:
“Rute foi para uma terra estranha. Ao invés de
depender de Noemi ou esperar que algo de bom acontecesse, tomou a iniciativa e
foi trabalhar. Não titubeou em admitir sua necessidade e buscou meios para
supri-la. Quando saiu ao campo, Deus proveu-lhe todas as coisas”. BAP (página 358).
Noemi sempre desejou o bem para Rute, tanto que
a orientou em um plano arriscado (Rt 3.1-7), mas de Deus, para que fosse
abençoada com um novo casamento de acordo com a lei mosaica. Nada mais justo
para uma nova convertida, que demonstrava zelo pelas coisas de Deus.
Mas o que parecia um socorro humano se tornou
na verdade um socorro de Deus para a vida das duas viúvas, pois qual delas, em
sã consciência imaginou, ainda em Moabe, que Deus tivesse um grande plano e que
havia preparado uma grande bênção para as duas em Judá?
Aquela moabitinha, singela, simples,
inteligente, que chegou em Judá,
assustada, confusa, com medo, entristecida pelo desprezo e situação financeira,
fez uso do levirato e alcançou uma grande bênção, foi grata e agradou a Deus,
tanto que foi incluída na genealogia messiânica (Mt 1.5), algo assustador para
os moldes legalistas judaicos da época (cfe Dt 23.3).
Na “casa do pai” uma viúva não soube esperar
“no Senhor” e complicou a sua situação, enquanto que a outra, no uso de um
artigo mosaico, que tinha por finalidade apenas o material, preservação de nome
e herança, alcançou a graça de Deus em sua vida, portanto podemos afirmar que para
Deus não existem regras com exceções, mas sim existem exceções com regras e
todas advindas Dele. Não tente entender o trabalhar de Deus!
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa
Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa
Publicadora
Por: Ailton da Silva
(18) 8132-1510