Como esperar algo de bom, tipo crescimento espiritual, mesmo estando no úmido, escuro, solitário e gélido fundo do poço?
O que podemos esperar de bom em situações desta natureza? Ainda mais do dia para a noite, pois a nossa impaciência, justamente o contrário do recomendado (Sl 40.1), nos remete a reações que sempre acarretarão um prejuízo maior.
José foi um caso atípico, difícil de encontrarmos na atualidade, pois será que alguém, em sã consciência reagiria como ele? Manter a calma e esperar que a raiva e ciúmes (Gn 37.11) de seus irmãos, diminuíssem para então retornarem à casa do pai.
Certamente ele não imaginou o pior, ou será que em sua mente se preparou? Passou pela sua cabeça que tão logo livre do poço, seria vendido como escravo ou que viveria boa parte de sua juventude (Gn 37.36) em uma nação totalmente diferente com costumes nada agradáveis ao seu Deus.
Nada neste mundo é tão pior que não possa piorar! Basta colocarmos as mãos para resolvermos, que certamente a situação sairá do controle. É costume dizermos que “vou ali resolver um problema e já volto”. A única certeza deste ditado é que voltamos sim, com o problema que fomos resolver e com o outro novo que criamos.
José não se debateu, não tentou sair da cova pelas suas próprias forças. Digamos que ele ficou esperando o arrependimento dos irmãos. Quem sabe ele olhou para as paredes úmidas do poço e viu que era inútil lutar ou que resolveu olhar somente para os monte (Sl 125.1-2) de onde poderia vir o socorro para a sua vida.
Ele fez justamente o que não conseguimos, pois qualquer um de nós, em situação semelhante, escalaria o poço, fazendo buracos na parede, cheios de esperança de alcançar o topo, mas escorregamos, caímos e retornamos ao ponto de origem, pois não adianta tentar. Se o socorro não vier de Deus certamente o homem não sai do fundo o poço.
Os pés estão molhados, a angustia assalta e o desespero nos faz tomar decisões, mas é melhor ficar ali, esperando. Somente os pés estão molhados e quando tentamos algo, todo o nosso corpo sentirá a água gelada.
Nada a ver, este texto, pois aqueles que servem a Deus não enfrentam situações iguais a este. Ou enfrentam? José recebeu uma missão do próprio pai (Gn 37.13), “vá, veja e retorne’ com notícias de seus irmãos. A resposta dele foi pronta: “eis me aqui, vou”.
No meio do caminho ele se perdeu (Gn 37.15), mas foi socorrido por Deus (um varão lhe indicou o caminho) e lhe disse: “jovem, você está na metade de sua missão, se quiser voltar pode, mas se for a frente alcançará o seu objetivo e agradará ao seu pai. Quer continuar”?
Estava perdido, na metade do caminho, quando encontrou seus irmãos, foi jogado no fundo do poço, foi vendido como escravo, quando tudo parecia que mudaria, conheceu os presídios egípcios (Gn 39.20), mas um dia viu uma luz no “alto” do túnel (luz no fim do túnel é locomotiva para acabar de matar, enterrar), que somente lhe aumentou o sofrimento (Gn 40.23).
Ele foi um instrumento nas mãos de Deus para que o seu plano pudesse ter continuidade, assim como muitos de nós desejamos, mas que meios foram estes utilizados por Deus? O certo é que ele e seus irmãos entenderam o porque de tudo aquilo (Gn 45.7). A obra carece de testemunhos e estes por sua vez devem vir de fontes confiáveis, ou será que estamos ouvindo que Deus está usando “os servos do maligno” para propagar o seu reino?
Diante de tudo isto como podemos acreditar no “evangelho de contos de fadas”, sem sofrimento? Como sermos instrumentos nas mãos de Deus se Ele não pode afinar? Ser instrumento nas igrejas, pregando, cantando, testemunhando bênçãos materiais é fácil. Difícil é ser tudo isto quando estamos lá no fundo do poço, lugar ideal para reclamação e murmuração.
No mundo tereis aflições. Isto não é promessa, é aviso. Se as promessas são verdadeiras o que podemos dizer dos avisos?
Por: Ailton da Silva