Deus trabalhou na
vida de Isaque, de forma a prepará-lo espiritualmente para que assumisse a
posição de patriarca a que seria elevado, tão logo seu pai fosse recolhido.
Este processo de
capacitação teve inicio após a anulação da condição de primogenitura de Ismael.
A partir daquele momento, o mundo ficou ciente de que Abraão tinha somente um
filho e seria o único que Deus usaria para continuidade de seu plano.
Isaque era o
filho unigênito e teve todas as atenções de seu pai voltadas em seu favor.
Todos deveriam esperar o momento certo para então contemplarem o cumprimento
das promessas, mesmo que demorassem.
Estes fatos
comprovaram que Deus realmente estava trabalhando na vida de Isaque e de sua
família, mas o sucesso somente foi alcançado devido a sua obediência, tal como
seu pai, pois da mesma forma soube esperar o momento certo para agir e receber
as bênçãos de Deus.
Todo este cenário
glorioso foi fruto da lealdade, obediência e fidelidade de Isaque, presenciadas
em sua vida no momento em que ficou aguardando o retorno do servo de seu pai
com sua futura esposa. Não reclamou, muito menos se desesperou pela demora.
Soube aguardar e receber a bênçãos como ninguém.
Abraão, pensando
no futuro e descendência da família, ordenou a um de seus servos que fosse
buscar, em sua terra natal, uma moça para se casar com seu filho, porém não
poderia ser a primeira que visse, ou a mais bela, a mais rica, pois entre os
cananeus havia muitas nestas condições, se fosse assim não haveria necessidade
de tamanho sacrifício e não precisaria ir tão longe. A escolha tinha que ser
cautelosa e não poderia ter erros.
A noiva deveria
ser uma especial, escolhida, apontada entre muitas e o servo haveria de
respeitar as únicas duas condições impostas por Abraão para proceder a escolha.
Primeiramente a
moça teria que ser da família do patriarca, que já era conhecedor da intenção
de Deus em criar para si um povo santo, zeloso e de boas obras.
Abraão não queria
presenciar a união de seu filho com as filhas dos cananeus, pois temia que
pudesse se contaminar com a imoralidade, idolatria, pecado e maldade que
reinavam entre aquele povo. A moça sendo parente deixava claro o grande plano
Divino na sua linhagem.
Em segundo lugar
Isaque não poderia retornar para as terras de seu pai, para buscar a sua
própria esposa, teria que confiar na fidelidade e no gosto do servo. Abraão
entendia que a sua ida para aquele lugar representaria um retrocesso em sua
vida, podendo até mesmo afetar a sua espiritualidade ou desviá-lo do caminho de
Deus.
Mas Rebeca era da
mesma família[1]
idólatra que Abraão havia deixado para trás, após a sua chamada, como agora
ordenava a mistura novamente?
Abraão disse para
o seu servo: “Vá e traga uma esposa para meu filho entre a minha parentela,
pois no meio do caminho, Deus irá tratar com ela”.
Abraão pensou
muito para chegar a esta conclusão, pois no seu entendimento seria possível que
a nova geração de sua família estivesse livre da idolatria, ou bem menos
influenciada negativamente, em todos os casos era melhor o casamento de seu
filho com uma mulher de sua linhagem do que a mistura com os cananeus. Esta
decisão teve o aval e a total aprovação de Deus.
Isaque até
poderia ter ido a cidade natal de seu pai para buscar a sua própria esposa, ou
então ter escolhido uma que lhe agradasse aos seus olhos, como prova da
existência do seu livre arbítrio, mas como submisso, jamais tomaria esta
decisão, desobedecendo a ordem de seu pai que na verdade era a própria vontade
de Deus para que a reputação dos patriarcas não fosse manchada.
Isaque, um tipo
de Jesus por ter sido alçado à condição de filho unigênito e pedido em
sacrifício por Deus, soube esperar sossegado o retorno do servo que traria a
sua noiva, assim como o Espírito Santo, um dia, levará a Igreja, como um servo
fiel, ao encontro do Noivo nos ares.
O plano de Deus,
naquele momento, era eleger uma nação santa, zelosa e de boas obras, querendo
com isso perpetuar o seu nome e, naquele momento, o casamento de Isaque com uma
cananéia resultaria em uma mistura de idólatras, maldosos, imorais e amorais,
uma verdadeira abominação.
Realmente seria
difícil a convivência do povo originado pela união entre os hebreus, cananeus,
jebuseus, girgaseus, heveus, heteus e etc. O plano de Deus era criar e manter
Israel, a sua nação e neste contexto histórico, o restante da humanidade não
estava inserido, até então.
A união dos
filhos, de qualquer um dos patriarcas dos hebreus, com uma cananéia
representaria o retorno[3],
jamais isto seria permitido e a qualquer momento, se fosse preciso devido a
desobediência ou rebelião, Deus trocaria Abraão, Isaque ou Jacó e outros
daquela linhagem. O certo é que aquela aberração e afronta não seria permitida.
O mesmo acontece
com o homem que se entrega a Deus deixando de lado a sua vida pecaminosa para
se tornar um verdadeiro cidadão dos céus, não tendo mais, por isso, nenhum
motivo para voltar, ao seu passado idólatra, em busca de algum benefício
carnal, material ou espiritual.
Então aquele servo obediente tomou
direção à terra natal de Abraão, para cumprir sua missão. Deveria escolher a
moça certa, a única, a que serviria para o filho unigênito de seu senhor.
Tarefa nada fácil, pois veria inúmeras
que certamente poderia vislumbrar seus olhos, mas não estava atrás disto. O que
fazer então? Havia somente uma atitude a tomar, buscar a resposta em oração.
Sem muito esforço, de sua parte, apenas orando, encontrou Rebeca.
O problema seria convencer o pai de
Rebeca a permitir que a levasse para Canaã. O plano do servo consistia em
revelar a todos a forma como Abraão, havia sido tirado de suas terras e como
provara sua fidelidade através da vida de seu filho, o futuro esposo daquela
moça. Somente assim os pais entenderiam que aquela união fazia parte do plano
de Deus. Nenhum argumento poderia ser colocado como obstáculo para que Isaque
recebesse sua bênção.
Naquela tarde não tinha como Isaque
disfarçar as suas preocupações, por isto a sua oração foi diferente, teve
propósitos, pedidos inusitados, coração ofegante, medo e ansiedade. A novidade
de vida se aproximava.
O servo do pai não estava demorando com
sua noiva. A bênção chegaria em suas mãos no momento certo. Mas como a recepcionaria?
Teria o servo acertado em sua escolha? A moça alegraria os seus olhos? E ela se
agradaria de Isaque? Três pares de olhos que estavam sob a direção de Deus, os
do noivo, da noiva e do servo foram os principais motivos da oração de Isaque
naquele dia.
Como de costume, voltava de seu
costumeiro momento devocional, quando encontrou Rebeca, pelo caminho.
Prontamente a recebeu[4] como
esposa. Ela desceu do camelo, cobriu o rosto e aceitou Isaque como esposo. Esta
foi a maior alegria do velho pai Abraão.
Desta união[5] nasceram dois filhos, que
desde o ventre já se mostravam rivais, devido as afeições diferentes com que
foram criados, pois, enquanto o pai amava mais Esaú, que era caçador, a mãe
amava mais a Jacó, esta atitude foi o princípio das dores para os pais.
continua...
[1] Ainda
havia resquícios de idolatria na família de Abraão (Gn 35.1-5; Js 24.2), ou
provavelmente as novas gerações não fossem tão idolatras quanto a parentela do
passado.
[3] Abraão
foi tirado do meio dos idolatras (Js 24.2), portanto não permitiria que seu
filho retornasse às suas origens.
[4] Rebeca se constitui
no segundo sacrifício de Isaque e novamente não tinha como dizer não para Deus.
[5] O encontro de
Isaque com Rebeca tipifica glorioso o encontro de Jesus com sua igreja. O pai
Abraão é um tipo de Deus. O servo é um tipo do Espirito Santo. Rebeca é um tipo
da igreja e Isaque é um tipo do Noivo.