A criação pecou, mas não foi
desamparada pelo seu Criador, porém o medo e as incertezas tomaram conta deles.
O que fazer então? Como reagir diante daquela situação? Deveriam esperar que
Deus lhes apresentasse o salário do pecado e o plano para restauração.
As visitas diárias foram interrompidas,
aquela foi a última. Os encontros anteriores foram prazerosos, mas aquele, em
especial, estava acontecendo algo diferente, pois o sentimento que brotou nos
coração não foi a expectativa saudável, a alegria, o regozijo, muito pelo
contrário, foi o pavor, medo e remorso. O único sentimento inexistente,
justamente, foi o arrependimento, que também não seria visto fora do paraíso,
no episódio do assassinato de Abel.
Naquela última visita o universo
presenciaria a instalação da misericórdia. Seria possível Deus ainda visitar a
sua criação, mesmo depois do ocorrido? Ele já sabia de tudo, mas fez questão
que o próprio homem declarasse seu erro, para então lhe apresentar e instalar o
seu plano de restauração. O inimigo ficou ao lado, não acreditando em sua falha.
Quando ouviram a voz de
Deus, temeram por dois motivos, primeiro pela situação em que se encontravam e depois
pelo medo, que aumentou em virtude da perda de identidade. Até então eles
tinham uma visão diferente do Criador, havia sido somente bênçãos, mas agora
estava prestes a presenciarem uma ação diferente de Deus. O que poderia ser
feito?
Quem sabe não pensaram
rápido em um plano para tentarem enganar a Deus. Quem sabe não planejaram
esconder tudo? Não teria jeito, pois Ele conhece o passado.
Ou talvez tenham pensado em esconder
o sentimento de frustração que havia invadido o interior deles, mas também não
haveria jeito, pois Deus conhece o presente.
No mínimo, devem ter pensado em uma
forma de esconder o medo que sentiam pelas consequências que recairiam sobre
eles, mas não havia jeito, pois Deus conhece o futuro e mesmo porque os
corações e pensamentos são sondados pelo Criador, que chega na região onde está
estabelecida a divisão entre a carne, alma e espírito.
O inimigo ao final desta
empreitada, imaginou ter feito o trabalho com sucesso. O homem caído, Deus
decepcionado com a sua criação. Agora não restava mais nada por fazer. Sua obra
estava completa, faltava apenas o Criador boicotar e não visitar a sua criatura
nos diários encontros na viração daquele fatídico dia.
O maligno amargou uma
grande derrota, pois Deus, sempre fiel, se fez presente, como se nada tivesse
acontecido. Pela onisciência, Ele sabia de todo o ocorrido, mas desejava
revelar a sua misericórdia para a raça humana, que momento ideal.
A expectativa por aquela
visita de Deus estava causando um terror na mente do casal. Como de costume
Adão foi chamado pelo nome e logo de início culpou a mulher pelo seu erro, mas
audácia maior foi quando ele acusou o próprio Deus de ter lhe dado uma
companheira para levá-lo a perdição. Já a mulher somente apontou para a
serpente.
Esta foi a seqüência dos
acontecimentos:
- Engano: partiu da serpente, depois atingiu a mulher e seduziu ao homem;
- Pecado: alcançou a mulher e depois o homem;
- Depoimento: o primeiro a depor foi o homem, depois a mulher e por fim a serpente ouviu a sua sentença sem demonstrar nenhum poder de reação;
- Sentença: a primeira a receber a sentença foi a serpente, depois a mulher e por fim o homem.
As sentenças foram
dirigidas aos três, atribuindo-lhes dores, sofrimentos, perdas, deveres, novas
rotinas, certeza da perdição e limitação do corpo humano:
- Serpente: sentença sobre o seu presente e futuro[1];
- Mulher: submissão ao homem e acréscimo de dores em sua gestação;
- Homem: sustento através de seu suor, até que voltasse ao seu estado original (pó).
As consequências do
erro, do homem, também foram sentidas por outra grandeza de Deus, a natureza,
pois ao perceberam a nudez, desfolharam uma figueira e coseram túnicas
provisórias, mas como se deteriorariam rapidamente, representando a superficial
providência humana diante dos problemas, foi preciso que Deus cozesse túnicas
de peles dos primeiros animais sacrificados no paraíso. A partir daquele
momento nasceriam toda espécie de espinhos e cardos.
Mesmo diante de todo
este cenário, a princípio, catastrófico, Deus reservou uma promessa especial[2] à mulher, talvez por ela
não ter culpado o homem ou ao próprio Criador, pelo seu erro. Ela foi a pessoa
que saiu mais fortalecida de toda aquela história.
O inimigo esperava que o
homem fosse desmoralizado por Deus. Os acontecimentos que se seguiram o
decepcionaram sobremaneira. A expulsão do paraíso foi confirmada, pois a
desobediência teria o seu ônus, mas ele desejava a condenação eterna.
Em nenhum momento, mesmo
apresentando a sentença, Deus desmoralizou ou desesperançou totalmente a coroa
da glória de sua criação, pelo contrário, lhe fez promessas grandiosas.
A
situação pecaminosa do homem e a sua nudez, antes da sentença, foram reveladas,
mas por quem? Pelo inimigo? Pela companheira? Ele mesmo percebeu? Ou foi a sua
consciência que rapidamente traçou um paralelo entre a forma anterior e a atual
e apontou a gritante diferença.
A
túnica de figueira que coseram rapidamente, ao perceberem que estavam nus, era
fraca, não resistiria por muito tempo, fora do paraíso. Precisavam de algo mais
resistente, além do mais para encobrir tamanho pecado deveria ser muito mais do
que simples folhas.
Quando
Israel saiu do Egito coseram rapidamente bolos, que não duraram muito tempo,
por isto Deus operou de forma a providenciar alimentação para toda aquela
multidão, durante longos quarenta anos. Mesmo com toda a preparação do primeiro
casal, eles não se cobririam por muito tempo, assim como o povo no deserto não
conseguiram se alimentar com apenas aqueles poucos bolos.
Talvez
o inimigo tenha pensado em interferir pela última vez, antes que o homem fosse
expulso do paraíso. Será que tentou colocar no coração do casal o desejo de rejeitarem
aquela ajuda de Deus? Adão não seria capaz, agora, de criar algo para si mesmo?
O certo é que já não tinha mais aquela sensação de dependência total, quem sabe
não se imaginava auto suficiente, pelo menos para coser suas próprias roupas.
Mesmo assim Deus
deu este presente a eles. Animais[3] foram sacrificados para
que o pecado fosse encoberto. Que animais? Os recém criados? Do paraíso ou de
fora? Foram extintos? Isto abalaria a cadeia alimentar? Não interessa quais
animais foram e o local onde estavam, o importante é que o amor e o plano de
redenção da humanidade foram revelados.
O pecado provocou uma
grande reviravolta na vida espiritual do homem, tornando-o vazio, portanto era
preciso outra intervenção de Deus, a terceira, pois a primeira foi na sua criação,
a segunda na formação da mulher e agora tornava-se necessário a restauração de
sua obra prima para que ela tivesse condições de se tornar habitação e morada
do Espírito Santo.
[1] O
maligno foi preparado para sua terceira sentença (Gn 3.15).
[2] Da
semente da mulher, não do homem, nasceria o que feriria a cabeça da serpente.
[3]
Animais inocentes, pegos de surpresa ou que já foram criados para esta
finalidade?
Por: Ailton da Silva - 6 anos (Ide por todo mundo)
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