INTRODUÇÃO
Deus
mandou Moisés construir o Tabernáculo e deixou bem claro a finalidade daquela
construção: ”E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Ex 25.8).
A
presença de Deus no Tabernáculo não era incondicional, pois os hebreus deveriam
manter o compromisso com a Aliança feita no Sinai, porém não se manterem fiéis
e assim a glória de Deus, que representava a presença pura, indescritível e sem
limites de Javé deixou o Templo e do meio do povo. Essa era a situação espiritual de Israel, sem a
glória de Deus e sem sustentação.
I – SOBRE A GLÓRIA DE
DEUS
1)
O significado de ”glória”
A
glória de Deus se manifestou no dia da dedicação do Tabernáculo (Ex 40.34-35)
quando cobriu todo aquele ambiente e depois repetiu sua ação no dia da
inauguração do Templo de Jerusalém (I Rs 8.11), quando os sacerdotes trouxeram
a Arca do Concerto para abriga-la em seu devido lugar. Tiraram a arca, que
representava a vida, a sustentação de Israel, de um velho prédio e a colocaram
no prédio novo. Tudo se fez novo.
A
palavra hebraica kavod (peso) aparece
duas vezes no Antigo Testamento (I Sm 4.18; II Sm 14.26). Na Septuaginta é
empregado os termos doxa (glória, resplendor,
poder, honra, reputação) e time (valor,
honra), mas Ezequiel, em suas visões nos deu o sentido de resplendor pela
presença do Senhor (Ez 1.26-28; 8.2). Entre os crentes modernos é usado o vocábulo
hebraico shekinah (glória), que não
aparece na Bíblia, porém muito usado no judaísmo.
A
glória de Deus é tão preciosa e grandiosa que nenhum ser humano pode
contemplá-la e continuar vivo (Ex.33.18-23),
alguns homens viram apenas algo semelhante a glória de Deus (Is 6.1-3) e sua
transcendência.
2)
A glória de Deus
a) A glória de Deus manifestada no
Tabernáculo:
A
glória de Deus se manifestou no dia em que o Tabernáculo foi dedicado a Javé (Ex
40.34-35), como resultado da aliança estabelecida no monte Sinai (Ex 19.2),
porém durante a tomada da arca da Aliança pelos filisteus nos tempos do
sacerdote Eli (I Sm 4.1-21), a glória de Deus deixou o Tabernáculo devido a
situação espiritual de Israel.
b) A glória de Deus manifesta no primeiro
Templo:
A
glória de Deus somente voltou durante a inauguração e na ocasião em que a arca
do concerto foi transferida para o recém-construído Templo em Jerusalém (II Cr
5.13-14; 7.1), mas se foi quando os babilônicos tomaram e destruíram a cidade e
o Templo (Jr 52.1-34).
c) A glória de Deus manifestada (Jesus) no
segundo Templo:
Zorobabel,
que voltou de Babilônia por volta de 538 a.C, iniciou a reconstrução do que ficou
conhecido como segundo Templo, bem mais simples e modesto que o primeiro e
nessa ocasião a glória de Deus não se manifestou como nas ocasiões anteriores. Por
que?
Todos
choraram e se lamentaram, mas não se entristeceram, pois confiaram na promessa
feita por Deus, através do profeta Ageu, que em pouco tempo, a glória daquela segunda
casa seria maior que a primeira (Ag 2.9), como de fato foi quando Jesus adentrou
o Templo durante o seu ministério terreno (Mt 21.10-15).
d) A glória de Deus NÃO manifestada no
Templo de Herodes:
Como
o segundo Templo não tinha a suntuosidade e grandeza material do primeiro, o
então mandante da Judeia, Herodes Magno, ordenou a ampliação e melhorias no
Templo reconstruído por Zorobabel. Sua intenção era somente ver o seu nome
gravado na placa da inauguração e deixar seu nome associado ao Templo, nada
mais que isso.
O
Templo em Jerusalém perdeu sua funcionalidade e toda a expectativa espiritual
que girava em torno do cumprimento da profecia de Ageu (Ag 2.9), tanto que
depois disso foi definitivamente e destruído.
II – SOBRE A RETIRADA DA
GLÓRIA DE DEUS
1) O
querubim e a nuvem (9.3; 10.4)
A
retirada da glória de Deus do Templo, segundo o profeta Ezequiel, simbolizou a situação
espiritual catastrófica do reino do Sul, que estava prestes a sucumbir diante
de seu inimigo.
A glória de Deus se levantou, do querubim[1]
sobre a Arca da Aliança ou se levantou sobre os querubins que estavam sobre o
propiciatório[2] da
arca (II Cr 5.8), passou pela entrada do Templo
certamente sem olhar para trás e por fim se afastou completamente em direção ao
Monte das Oliveiras, o mesmo local onde Jesus também deixaria a Terra para
receber novamente toda a sua glória celeste.
2) A
retirada da presença de Deus (10.18)
A
glória de Javé pairou sobre os querubins, deixou o lugar Santo dos Santos, se
dirigiu para a entrada do Templo e iniciou sua retirada por completo de Judá. Esse
processo foi todo acompanhado de perto pelo profeta, que entendeu que Deus
estava retirando sua presença e assim o inimigo teria autorização para agir. Fato
esse ocorrido em 587 a.C., por intermédio da ação dos caldeus sobre Jerusalém
(II Rs 25.3-10; Jr 39.2; 52.6). Quando eles chegaram a glória de Deus já estava
bem longe.
Sem a
glória de Deus, Jerusalém ficou sem alma, sem espírito e como um corpo desfalecido,
estava pronto para ser abatido. Um amontoado de ruinas e lamentações (Lm 1.1).
A glória de Deus se revelou a Abraão, que então saiu
de Ur dos Caldeus, da Mesopotâmia, berço da Babilônia e caminhou cerca de 1.400
km para chegar a Canaã. Quando a glória de Deus se retirou de Jerusalém, os
judeus caminharam cerca de 1.400 km para trás e retornaram para a mesma região
de onde havia saído o grande patriarca Abraão.
A glória de Deus se retirou do primeiro e segundo
Templo, antes da completa destruição. O mesmo aconteceu como Enoque, que foi
retirado da Terra para não presenciar o dilúvio e Elias, que foi levado antes de
contemplar o cativeiro babilônico e o mesmo acontecerá com a Igreja que será
tirada antes da manifestação do Anticristo.
3) Por
fim a glória de Deus se pôs sobre o Monte das Oliveiras (11.23)
Ezequiel
viu a glória de Deus saindo do Templo e indo em direção ao Monte das Oliveiras
e da mesma forma como Jesus faria quando ascendesse ao céu (At 1.9-11).
Com a
retirada total da presença de Deus, o Templo e Jerusalém ficaram vulneráveis. O
que antes era um privilégio para Israel se tornava então o inicio dos martírios
da cidade e do povo (Lm 1.1). O Templo seria
destruído e os judeus seriam levados para longe de sua Terra Prometida.
A glória de Deus se manifestou no Tabernáculo no deserto,
no Templo em Jerusalém e voltará a se manifestar no céu, na plenitude dos
tempos da humanidade, mas antes disso está presente em cada um daqueles que
aceita o sacrifício vicário de Jesus, pois Deus não confunde o destino de um
povo com o destino de indivíduos. De Israel foi tirada a glória de Deus, mas no
crente em Jesus ela ainda se faz presente.
III – SOBRE O SEGUNDO
TEMPLO
1) O segundo templo
O
primeiro Templo havia sido construído por Salomão, em dias de paz com os
vizinhos, de prosperidade, cooperação de todos, envolvimento e sabedoria, mas
os caldeus destruíram essa grande obra e levaram cativo os judeus para a
Babilônia.
A primeira
leva de judeus, que retornou do exílio com Zorobabel, se dedicou a reconstrução
do que ficou conhecido como o segundo Templo ou Templo de Zorobabel, sem
contudo atingirem a mesma opulência, beleza arquitetônica ou dimensões do
primeiro (Ed 6.15), pois não tiveram os mesmos recursos, mão de obra
especializada e condições favoráveis, mas que estavam aguardando o cumprimento
da maior de todas as promessas (Ag 2.9).
Ciro,
rei da Pérsia, pôs fim ao cativeiro de Judá em 539 a.C., e ordenou a reconstrução
do Templo em Jerusalém (II Cr 36.20-23; Ed 1.1-2). Na verdade era como se Ciro
tivesse decretado: “eu liberto vocês, mas quero produção, quero que demonstrem
gratidão ao seu Deus, pois fui usado como instrumento por Ele”, conforme
descrito por Flávio Josefo:
“Esse soberano falava assim porque lera nas profecias de
Isaías, escritas duzentos e dez anos antes que ele tivesse
nascido e cento e quarenta anos antes da destruição do Templo,
que Deus lhe tinha feito saber que constituiria a Ciro rei sobre várias nações e inspirar-lhe-ia a resolução de fazer o povo voltar a Jerusalém para reconstruir o Templo. Essa profecia causou-lhe tal
admiração que, desejando realizá-la, mandou
reunir na Babilônia os principais dos judeus e anunciou que lhes permitia
voltar ao seu país e reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo, que eles não deveriam
duvidar de que Deus os auxiliaria nesse desígnio e que
escreveria aos príncipes e governadores de suas províncias vizinhas da Judéia para que
lhes fornecessem o ouro e a prata de que iriam precisar e as vítimas para os sacrifícios”. JOSEFO
(Livro décimo primeiro, capítulo 1).
Da
mesma forma como foram levados cativos para a Babilônia, em três etapas, os
judeus retornaram em três[3]
frentes que se dedicaram a reconstrução espiritual e material da cidade.
2) O
Templo de Herodes
Davi, que andava segundo o coração de Deus (I Sm
13.14), não pode construir o Templo em Jerusalém, devido as muitas guerras (I
Cr 17.1-15). Então, como é que historicamente teríamos que aceitar Herodes
Magno (um assassino, profano, blasfemador) reformando o Templo em Jerusalém e
colocando a placa com seu nome ou somente para agradar o imperador? Uma
verdadeira profanação.
O
Templo de Zorobabel, bem mais modesto que o de Salomão, foi reformado e
ampliado por Herodes, Magno, que conseguiu enganar alguns na época com a ideia
de que o Templo não estava à altura do primeiro. A reforma se iniciou por volta
do ano 15 a.C., continuou durante o ministério terreno de Jesus (Jo 2.20) e foi
concluída em 66 d.C., para ser completamente destruído no ano 70 d.C., pois não
havia mais necessidade de sua existência. Toda a expectativa cristológica e
profecias foram cumpridas quando Jesus entrou no Templo.
3) A
presença do Filho de Deus
Se a
glória de Deus não encheu o Templo, na ocasião em que foi reconstruído por
Zorobabel juntamente com os judeus que retornaram do cativeiro babilônico,
muito menos encheria durante ou na finalização da reforma feita por Herodes.
No
entanto, Jesus trouxe a glória de Deus quando ministrou no Templo de Herodes
(Ag 2.7; Jo 1.14), fazendo a glória da segunda casa ser maior do que a da
primeira (Ag 2.9; Mt 21.12,14,15; Lc 2.46).
O
Templo desempenhava várias funções em Israel como lugar de perdão, do encontro
com Deus, da presença divina, era o centro espiritual da nação. Então após a
entrada de Jesus, perdeu toda a sua funcionalidade.
IV – SOBRE O SENHOR JESUS
E O TEMPLO
1) Explicação
teológica.
A glória
do Senhor deixou o Templo antes de sua destruição pelos caldeus, da mesma forma
aconteceu com o segundo Templo, pois Jesus entrou e saiu, para deixar claro que
Ele, a partir de então, substituiria e assumiria todas as funções que antes
eram exercidas no Templo pelos sacerdotes e levitas.
Os
babilônicos destruíram o Templo
construído por Salomão no 9º dia do 4º mês entre os anos de 587 e 586 a.C. Os
romanos destruíram em definitivo o
Templo reconstruído por Zorobabel e reformado por Herodes no 9º dia do 4º mês
do ano 70 d.C. Lembrando que o 4º mês é o Tamuz, o mesmo referido na lição
anterior no tópico III, ítem 1.
Segundo Flávio Josefo, o Templo foi completamente destruído
1.130 anos, 7 meses e 15 dias após a conclusão por Salomão e 639 anos, 45 dias após
a reconstrução efetuada por Zorobabel.
Jesus,
maior do que Salomão (Lc 11.31), maior do que o Templo (Mt 12.6), maior que o
sacerdócio levítico, pois ouviu, atendeu, curou, perdoou pecados, ressuscitou
mortos, se fez carne, tabernaculou entre os homens, se ofereceu e se tornou o
sacrifício único, trouxe paz e reconciliação e acima de tudo se fez propício.
2) O
fim do Templo
O que
o Senhor Jesus insinuou e ensinou, na última semana do seu ministério terreno,
se cumpriu, pois não ficou pedra sobre pedra, tudo foi derrubado (Mt 24.2; Mc
13.2; Lc 21.6), mas como nos casos anteriores, a glória de Deus se retirou
antes (Mt 23.38,39) da destruição.
3) A
presença de Deus hoje
O
grande Templo, seja o resquício do primeiro, do segundo ou do que foi reformado
por Herodes, não existe mais e nem teria motivos para tal, uma vez que sua
missão na Terra já estava concluída.
Em
Jesus agora temos a redenção, o perdão de nossos pecados, a paz e o livre
acesso a Deus (Jo 14.23; I Co 6.19). Jesus nos comprou na cruz com o alto preço
de seu sacrifício e o Espírito Santo habita e nos faz seu santuário para que a
glória de Deus esteja sempre manifesta em nossas vidas.
CONCLUSÃO
Ezequiel
alertou os judeus sobre o pecado e as consequências que recairiam. O que
julgavam indestrutível caiu ante ao inimigo. Os babilônicos queimaram e
deixaram em ruínas o primeiro Templo. Os romanos destruíram o segundo, mas em
Jesus, o substituto, até puseram as mãos, tentaram matá-lo, porém não foram
páreos para o seu grande poder e glória.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Abraão. O TABERNÁCULO E A IGREJA
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada. Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004
LOURENÇO, Luciano de Paula. Quando se vai a glória de Deus. Disponível em: http://luloure.blogspot.com/2022/10/aula-04-quando-se-vai-gloria-de-deus.html. Acesso em 20 de outubro de 2022
SILVA, Ailton da. Querubins, bezerro, serpente. Disponível em: http://ailtonsilva2000.blogspot.com/2011/11/querubins-bezerro-serpente.html. Acesso em 19/10/2022
[1] Seja os dois querubins que repousavam
sobre o propiciatório ou outros enviados por Deus, o certo é que esses seres
angelicais não podiam ser objetos de adoração e idolatria, haja vista estarem
ali para representarem o trono e a presença de Deus. Por serem partes da arca
da Aliança não podiam ser vistos constantemente, tocados e ninguém poderia se
aproximar deles, exceto o sumo sacerdote em seu oficio.
[2]
Propiciatório, peça feita de ouro maciço e puro, a tampa da arca da Aliança
onde repousavam a figura de dois querubins, representando o trono de Deus (Is
6.1) e materilizando todo o desejo de Deus em se tornar favoravel ao homem.
[3] Os judeus foram levados para a Babilônia em três
etapas, em 605, 597 e 586 a.C. O retorno também se deu em três etapas, cada
qual com uma liderança destacada e com missões especificas, em 538 a.C. com
Zorobabel para reconstruírem o Tempo, em 458 a.C. com Esdras para resgatar a
lei e o oficio sacerdotal e em 445 com Neemias para reconstruírem os muros e as
portas de Jerusalém.
Por: Ailton da Silva - 13 anos (Ide por todo mundo)
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