Alguns dos furiosos filipenses, que participaram da revolta popular
levantada contra a ação dos pregadores Paulo e Silas, rangiam os dentes de tal
maneira que devem ter jurado atitudes ainda mais severas contra os missionários
no decorrer daqueles dias. Imaginaram se reunindo novamente para contemplarem a
execução, após as animalescas torturas dos “corretos e inatingíveis” juízes
inquisitores que certamente existiam, os perfeitos da época, os anti-bruxos, os
anti-leitura, os queimadores de literatura sacra, os adversários do crescimento
pedagógico espiritual, tal como visto na idade escura da humanidade, manchada
pelo sangue de inocentes que somente desejavam cumprir o “ide da grande
comissão”.
O que poderiam pensar aqueles pobres homens cegos de Filipos? O que
poderiam fazer de mal aos enviados de Deus que estavam ali somente para
apresentar-lhes a Graça? Será que imaginavam que as furiosas caras e algumas
mascaras poderiam esconder o vazio que exisitia no interior de cada um? Pura
ilusão. Eles estavam exteriorizando o amor e zelo pela religião local, talvez a
maior da época, a mais antiga, a que se declarava erroneamente como primeira e
única, talvez a que batia no peito e declarava: “os filipenses tem a literatura
sacra devido a nós (nós – religião)”, ou aqueles que mais entusiasmados diziam:
“se não fosse a nossa religião (filosofia barata e rídicula de vida, mistura de
misticismo e mitologia greco-romana, traduzindo, uma verdadeira bagunça que
perdura nos dias atuais) ninguém teria literatura”. Conversa fiada de quem não
tem argumentos para incentivar o povo a buscar na Palavra entendimento e razão
para existência e salvação, aliás um emaranhado de paredes brancas (At 23.3).
Quem poderia tocar em Paulo? Até então ninguém o havia conseguido, pois:
- A cilada de alguns judeus que não se conformaram com sua conversão (At 9.24-25) não foi capaz de assustá-lo;
- As caras feias de alguns gregos que não puderam com ele em termos de conhecimento e ousadia na Palavra (At 9.29), também não o assustou;
- As pedradas em Listra (At 14.19), que o deixou com aparência de morto, apenas para os olhos de seus algozes, pois estava muito vivo e muito bem cuidado;
- Na volta de sua terceira viagem missionária, já em Jerusalém e diante de seus acusadores e juízes, ninguém teve coragem de setenciá-lo (At 21.3;), nem os integrantes falíveis do Sinédrio, tampouco a parede branqueda, o Sumo Sacerdote, muito menos Félix, Festo, Agripa quem dirá então os soldados no momento do naufrágio quando desejaram matar todos os prisioneiros (At 27.42).
Ninguém teve coragem de colocar as mãos naquele homem, não apareceu homem
suficiente forte e corajoso para sentenciá-lo, tal como Moisés que havia fugido
do Egito após seu “crime”, pois a sua volta foi motivada e garantida por um
“salvo-conduto” vindo do céu, ele pisou em terras egípcias e ninguém o acusou
do passado, sequer lembraram[1].
Da mesma forma, agora os judeus, como estavam limitados por algo superior, enviaram
o acusado para repetir o seu apelo ao semi-deus morto César, o que desejou em
vida ser maior que seu rival grego Alexandre, ambos muito pequenos diante de
Deus, o verdadeiro e Grande.
Então entraram em cena os filipenses (selá – momento para respirar
fundo, uma pausa para imaginar a audácia daqueles homens que um dia imaginaram serem
capazes de colocar um fim no ministério apostólico de Paulo, respirei fundo ao
imaginar esta cena). A população revoltada de Filipos não passava de um
amontoado de fanfarrões. Se ajuntarem em bando, rasgar a vestes de dois
símbolos de humildade e contentamento (cfe At 9.16) isto foi muito fácil,
quanta valentia demonstrada por aqueles covardes, que um dia estariam
congregados, por isto que Deus não leva em conta o tempo de ignorância, prova
disto foi Paulo, que ouviu admirado durante seus primeiros dias de conversão: “Este
não é o mesmo homem que perseguia tão ferozmente os seguidores de Jesus em
Jerusalém?” (At 9.21 – Biblia Viva). Se aconteceu isto com ele, por que não
poderia acontecer o mesmo com os filipenses? Ora se um dia ele bateu e
esqueceu, que dirá aqueles vazios habitantes e futuros membros da igreja de
Filipos.
E foi justamente isto o que aconteceu, pois no outro dia pela manhã os
filipenses não se lembravam mais do que haviam feito no dia anterior, mas qual
foi o motivo deste esquecimento? O que faz um homem esquecer os atos contrários
à vontade de Deus?
A multidão que ajudara a rasgar suas vestes e que os empurraram prisão a
dentro, ficou boaquiaberta, no dia seguinte, diante dos fatos ocorridos â noite.
Homens louvando e orando a Deus em meio a dores e em ambiente hostil.
Prisioneiros, sem valia, que não fugiram mesmo diante de portas abertas. Homens
sem escrúpulos que ficaram congelados diante do louvor verdadeiro e “oração
forte”, oração forte mesmo, saída do interior, da alma, da dor, aliás “os mais
belos hinos, poesias” e orações
(acréscimo meu) foram escritos em momentos de tribulação ou no mínimo estranhos
e inaceitáveis para muitos de nós, que nos diga uma de nossas pioneiras em uma
de suas inspiradíssimas composições[2].
Diante da porta da prisão, os filipenses viram os missionários
contentes, satisfeitos e não entenderam a reação, mas o que deixou a população
confusa, de verdade, foi quando ouviram um preso lá do fundo gritar: “irmãos da
1ª igreja Evangélica de Filipos, Paulo e Silas podem voltar mais vezes aqui
para louvarem e pregarem a Palavras? O amém foi ensurdecedor”, verdadeiro e não
como estes que dizemos quando somos “obrigados” a bradarmos somente para
agradar intinerantes que não suportam uma varada apenas pelas igrejas que
visitam. Tampouco imagino este preso repetindo a pergunta, tal como alguns imitadores,
quando saudam a igreja cansada, triste e que precisa da Palavra fortalecedora.
Estes não entendem que os congregados estão precisando e não oferecendo[3].
Ela se apresenta para receber de Deus e não para agradar egos humanos.
Eu concebo a ideia de alguns dos filipenses revoltosos ter dobrado seu
joelho ali mesmo e ter aceitado Jesus como Salvador, para isto Paulo e Silas
foram enviados, para ganharem almas através da instrumentalidade de suas vidas,
outros confusos talvez disseram: “perdoa-nos Deus, não sabíamos o que estávamos
fazendo ontem”.
Este contentamento
dos missionários, proporcionado pelo cristianismo verdadeiro, sem variantes e
imposições “constantinais[4]”,
é uma virtude, se torna um comando para novas ações. Esta alegria e certeza não
pode ser encontada “em dinheiro, posses, poder, prestígio, relacionamentos,
empregos” e religião, mas sim e somente na pessoa bendita de Jesus.
Paulo não se
desesperou ante as privações, não manipulou pessoas ou seus obreiros, não
explorou as igrejas por ele fundadas e cuidadas e não cobrou delas sustento, em
nenhum momento. Sempre se mostrou confiante nas providências de Deus.
Em seu estado de
contentamento mostrava-se satisfeito com o pouco, não se preocupava ou se
assustava com as circunstâncias. João Batista havia ensinado isto a alguns
dizendo: “e contentem-se com o seu salário” (Lc 3.14 – Biblia Viva). O mesmo
conselho foi recebido por Timóteo: “Portanto, devemos
sentir-nos bem satisfeitos sem dinheiro, se tivermos alimento e roupa
suficiente” (1 Tim 6.8 – Biblia Viva).
Ele pensava
principalmente no bem estar dos outros e olha que estes outros careciam muito
desta sua preocupação. Foram dois os avisos de Paulo enviados à igreja em
Filipos:
- “Não estou dizendo isto porque estava precisando, pois aprendi a viver alegremente, tenha muito ou pouco” (Fp 4.11 – Biblia Viva);
- Eu apanhei e esqueci, vocês bateram, ajudaram ou consentiram, esqueçam, livrem-se desta culpa. Eu posso dizer isto, pois passei pelo mesmo, bati, ajudei e consenti, mas esqueci (At 8.1).
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI).
Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.
A Bíblia Viva.
Edição para todos. Associação Religios Editora Mundo Cristão.
MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários
expositivos Filipenses. 1939.
[1] Deus
não leva em conta o tempo de ignorância, outro exemplo clássico foi o de
Moisés.
[2]
Conforme hino 126 da Harpa Cristã, traduzido em palavras por Frida Vingren,
missionária de verdade.
[3]
Não comungo este tipo de cumprimento: “eu saúdo a igreja com a paz do Senhor! EU
SAÚDO A IGREJA COM A PAZ DO SENHOR! Agora sim estão vivos, povo de Deus é
forte”. E o cidadão fica todo satisfeito por que a igreja obedeceu ao seu
chamado. Nesta hora eu queria ter um potente aparelho de som para gritar bem
alto a ponto de deixar o solicitante surdo, era isto que você queria, toma.
[4] O
impositor e impostor Constantino, o mentiroso imperador que se fingiu de
cristão para empurrar “guela abaixo” da igreja suas inovações, modismos e
ideias idolatras. Neste caso o perseguidor virou perseguido como houvera acontecido com Saulo, o Paulo.
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