Moisés: Abriria um mar, mas não abriu um rio
A mãe de Moisés
não poderia perder tempo, então construiu um pequeno cesto de junco betumado e
lançou o menino no rio, cumprindo, em parte, o que fora ordenado por Faraó.
Joquebede
conhecia muito bem a matéria-prima que estava utilizando. Confiou em sua
habilidade e parou na borda do rio, pois dali para frente não poderia
prosseguir.
A borda do rio
era a fronteira entre o possível e o impossível. Ali se esgotavam suas forças e
recursos para entrar em ação a fé[1].
A mãe entregou o menino para que Deus
cuidasse rio abaixo. Se fosse uma exímia nadadora poderia atravessá-los juntos
e fugiriam para outras localidades. Dentro do cesto, desprotegido e entregue a
morte, era esta a posição que o inimigo desejava vê-lo, seria o seu fim? A sua
mãe não pensava desta forma.
Na borda do rio, a mãe sentiu que o
livramento não dependeria dela. Dali para frente seria com Deus, que faria além
do imaginado e esperado[2]. A
sua esperança era de livramento, bem longe de Faraó e sua família, porém Deus
guiou o menino para outro caminho. O que parecia ser ruim, poderia ser muito
útil no futuro. Não iria somente preservá-lo, mas sim, prepará-lo para uma
grande obra, com uma grande contribuição dos egípcios.
Esta foi a primeira experiência de Moisés
com as águas, devido a sua tenra idade não teria condições de ordenar que
aquele rio se abrisse em duas colunas para atravessar juntamente com sua mãe,
como aconteceria dentro de alguns anos. Era necessário que Joquebede
enfrentasse o perigo, desespero e a angústia, pois a fuga não fazia parte dos
planos de Deus. A abertura das águas, na vida de Moisés, não seria antecipada[3]
antes para os dois atravessarem a salvos para o outro lado.
Por que Deus não antecipou a divisão das
águas do rio para tornar seco o caminho da mãe e filho? Justamente porque o
ministério de liderança de Moisés não seria antecipado.
Terceiro livramento – a filha de Faraó
Qual era a esperança de Joquebede? Outra
família hebréia em melhores condições o encontraria ou alguém mais corajoso
poderia aparecer para resgatá-lo?
Ou esperava que as águas levassem Moisés
para bem longe da dominação egípcia? Ou um milagre ainda maior? Será que tinha
conhecimento da rotina da filha de Faraó?
Miriã, irmã de Moisés, margeou[4] o
rio, para acompanhar o trajeto do barquinho por três motivos:
- Queria ter a certeza de que alguém o encontraria;
- Sua fé, talvez, não fosse suficiente para confiar nas providências de Deus;
- Ou queria ser a primeira a dar a notícia do milagre de Deus para sua mãe.
Deus fez muito mais do que esperava, pois
o bebê foi encontrado pela filha de Faraó, que preferiu livrá-lo da morte
certa, mesmo contrariando as ordens de seu pai. O choro da criança amoleceu o
coração dela.
Miriã vendo isto correu ao encontro dela
e se ofereceu para encontrar uma pessoa para cuidar da criança. Foi tão
convincente que não despertou nenhuma suspeita quanto a sua estreita ligação
familiar com aquele bebê. O desfecho desta história se deu com chave de ouro,
pois a sua própria mãe foi remunerada para criá-lo.
O milagre de Deus foi simples, três
livramentos de morte para Moisés, uma porta aberta de emprego e um passeio em
sua arca de junco rio abaixo. Aquilo que parecia ser o fim foi, na verdade, o
começo de uma nova vida, pois atracou com seu barquinho na realeza egípcia a
fim de usufruir de todos os recursos disponíveis e ao mesmo tempo ser criado,
pela mãe, no temor de Deus.
Ser tirado das águas foi uma providência
divina para prepará-lo fisicamente e espiritualmente para a árdua missão. Além
do vigor físico, seria necessário o conhecimento histórico e geográfico do
Egito.
Aprenderia táticas de guerra,
organização, comando e defesa pessoal, matemática[5], geografia, astronomia e
outras ciências egípcias, que lhes seriam úteis durante a caminhada em direção
a Canaã. Estava no lugar certo, onde seria possível obter todos estes
conhecimentos.
Moisés foi adotado pela filha de Faraó e
ganhou esta bolsa de estudo, que muito o ajudou para derrotar o próprio Egito.
Aproveitou a oportunidade, adquiriu conhecimento necessário e teve acesso a
mordomia do sistema.
Mais uma vez o Egito entrou na história
dos hebreus como coadjuvante a fim de fornecê-los o que precisavam, da mesma
forma como fizeram com Jacó e seus filhos quando os sustentaram no período de
fome durante a administração de José e quando deram guarida e socorro para
Abraão (Gn 12.10).
Moisés, criança incomum, formoso, educado
e instruído em toda ciência, poderoso em palavras, realmente foi uma vida
privilegiada, para quem sequer esperava sobreviver após o nascimento.
Sua mãe teve a oportunidade de criá-lo
segundo os costumes e tradições hebraicas, certamente, por isto, deve ter lhe
falado acerca das promessas feitas a Abraão, Isaque, Jacó e José. Aos poucos
conseguiu convencê-lo de que tinha linhagem semita e que em suas veias corria
sangue hebraico e não egípcio.
Moisés recebeu estes ensinamentos
justamente no momento em que estava sendo formado o seu caráter. O pouco que
recebeu de sua mãe foi o suficiente para que sentisse as dores do seu povo
quando as conheceu de perto.
Estava diante da nobreza, riqueza e do
pseudos poderosos, por isso deveria ser realmente criado no temor de Deus para
que jamais fosse contaminado pelas ofertas egípcias.
A fé de sua mãe foi recompensada pelo
livramento, que jamais poderia ser previsto, tamanha misericórdia de Deus
revelada, pois como em sã consciência, Faraó poderia imaginar que um
sobrevivente da matança pudesse ser criado em seu próprio palácio? Qual seria a
sua reação caso visualizasse os sólidos fundamentos daquele império sendo
abalados por Moisés no futuro?
Quando a filha de Faraó recolheu[6]
aquele bebê jamais imaginou que estivesse sendo usada como um instrumento para
o cumprimento do plano de Deus.
Quantas notícias[7] boas a sua mãe recebeu
naquele dia. Julgava que seu bebê não suportaria ficar por muito tempo exposto
no rio e sol. Imaginou o filho morto, mas de uma hora para outra, sua filha lhe
deu ótimas notícias:
- Moisés foi resgatado;
- Tem um trabalho lhe esperando com a promessa de um bom salário;
- Moisés será criado por nós, por algum tempo, no temor de Deus e conhecerá parte de nossa história;
- E quando atingir uma idade, certamente, pela fé e conhecendo Deus, se recusará ser chamado de filho da filha de Faraó. A maior esperança das duas se tornaria a maior decepção[8] da filha de Faraó.
Onde estavam os sábios e estudiosos do
Egito que não alertaram Faraó sobre o risco que estava correndo ao amparar
Moisés? No passado um encarcerado hebreu livrou o império da crise e o levou a
um período próspero, mas trouxe consigo os que mais tarde assustaram os
governantes egípcios.
A diferença foi que José esteve muito
tempo como um escravo e encarcerado, para depois ser exaltado entre a nobreza,
enquanto que Moisés foi, desde criança, instruído em toda ciência egípcia, para
depois de alguns anos, afrontar o império egípcio. Um dia usaria todo o
conhecimento adquirido.
[1] Na borda do rio
ocorreu uma das maiores guerras espirituais. A maior de todas aconteceu na
crucificação de Jesus, por isso foi permitido que alguns ficassem aos pés da
cruz, dali para frente era entre Jesus e Maligno (Jo 19.25)
[2] Tal
como Jacó que havia recebido o “algo mais de Deus”. O patriarca anterior orou
pedindo somente alimentos e foi abençoado. A mãe pedia somente a preservação da
vida e recebeu muito mais.
[3] As
águas se dividiram na vida de Moisés na hora determinada por Deus, tal como o
deserto se apresentou na vida dele no momento correto, quando fugiu para Midiã.
Deus não antecipa a sua obra na nossa vida. É no momento certo.
[4] Miriã,
a jovem que correu atrás do milagre. Queria ver o bem do irmão. Atuou como uma
verdadeira pastora acompanhando sua ovelha de perto. Se machucou, arranhou,
caiu, enroscou em galhos e árvores, mas foi até ao final.
[5] Moisés,
exímio matemático, foi capaz de calcular a quantidade de carne necessária para
saciar os hebreus em pleno deserto por trinta dias (Nm 11.22). Seria necessário
todas as vacas, ovelhas e peixes do mar. Foi muito infeliz em seu comentário.
[6] A solução para Moisés
estava dentro do palácio. Deus reservou o melhor lugar para ele.
[7] Tal
como Jacó, quando ouviu de seus filhos que José estava vivo, que era
governante, rico e que os aguardavam com muitas outras bênçãos no Egito.
[8]
Primeira decepção: Moisés não quis ser chamado de filho da filha. Segunda
decepção: ela sabia que não era a verdadeira mãe, pois não havia dado a luz,
criado ou educado.
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